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Memórias dos Pupilos

Aqui vou registar as lembranças, boas e más, dos meus tempos de aluno dos Pupilos do Exército para as partilhar com os leitores. São, também, para os actuais alunos se quiserem conhecer velhas experiências...

Memórias dos Pupilos

Aqui vou registar as lembranças, boas e más, dos meus tempos de aluno dos Pupilos do Exército para as partilhar com os leitores. São, também, para os actuais alunos se quiserem conhecer velhas experiências...

Outra Casa

 

Faz hoje ou amanhã cinquenta e oito anos que, de livre e espontânea vontade, entrei no Instituto dos Pupilos do Exército. Poderia ter ficado a estudar no liceu Gil Vicente, próximo de casa dos meus Pais. Podia ter tido uma juventude igual à de tantos meus amigos de infância, usufruindo das delícias do aconchego da casa paterna. Quis a “aventura” de um colégio interno, com características castrenses na instrução e educação. Sonhava ser militar. Andei por lá sete anos. Tinha começado a guerra em Angola, havia sete meses, troquei os Pupilos pela Academia Militar para dar continuidade ao meu sonho de criança: ser oficial das Forças Armadas.

Recordo com saudade esses sete anos que me enrijeceram e me inculcaram valores de que me não envergonho. Lá, éramos, essencialmente, alunos militarizados e não sofríamos a influência da Mocidade Portuguesa. A disciplina era castrense e a vida regia-se por toques de corneta desde que nos levantávamos, às seis da manhã, até que nos deitávamos, às vinte e duas e trinta minutos. E tínhamos nas camaratas altifalantes, que ampliavam o som da alvorada, por onde se ouviam também marchas militares.

 

Foi precisa a crise — esta maldita crise — para o “Governo das poupanças”, o “Governo do esbulho” acabar com o meu centenário Instituto, a minha Outra Casa. Portugal está mais pobre, nós sabemo-lo, mas os antigos alunos dos Pupilos do Exército ficam mais pobres do que os restantes cidadãos, porque perdem uma referência que ainda se debruça vetusta e nobre sobre a linha de caminho-de-ferro de Sintra, em Benfica. Um dia destes vou, sozinho, visitar as velhas instalações. Não quero companhia para que se não me veja escorrer pela face aquela lágrima de saudade que teima sempre em surgir quando rememoramos os recantos da nossa juventude, quando olhamos as velhas pedras e paredes que nos falam de nós mesmos noutros tempos distantes. Irei sozinho, na minha romagem de saudade, antes que seja tarde e os portões se fechem para sempre.

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