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Memórias dos Pupilos

Aqui vou registar as lembranças, boas e más, dos meus tempos de aluno dos Pupilos do Exército para as partilhar com os leitores. São, também, para os actuais alunos se quiserem conhecer velhas experiências...

Memórias dos Pupilos

Aqui vou registar as lembranças, boas e más, dos meus tempos de aluno dos Pupilos do Exército para as partilhar com os leitores. São, também, para os actuais alunos se quiserem conhecer velhas experiências...

A primeira fotografia

 
Até ao século XIX o retrato pintado era um privilégio de nobres endinheirados ou de ricos burgueses. Os pobres, ou simplesmente remediados, passavam pela vida sem deixar do seu rosto qualquer rasto. Com a invenção da máquina fotográfica tudo se modificou: a gente de fracas posses financeiras pôde passar a fazer, em circunstâncias festivas, a reprodução da sua pessoa e dos que lhe eram queridos. Assim, nasceram as galerias de fotografias nas casas burguesas que, de certa forma, copiavam as dos retratos pintados das famílias nobres ou ricas.
 
Ainda nos anos 50 do século passado, entre nós, fazer fotografia era um gasto que se guardava para certas ocasiões; os custos da máquina, do rolo e da revelação pesavam nos magros orçamentos de quase todos os pequenos e médios burgueses. Havia coisas mais necessárias onde gastar dinheiro.
 
Na minha família — naquela onde nasci — tinha a minha Mãe o hábito de colar em álbuns as fotografias que recordavam passeios ou outros momentos de boa-disposição. Ainda os guardo com rigor religioso, porque já só eu e a minha irmã — mais velha sete anos — sabemos conhecer aquelas caras de antigas fotografias de cor sépia. Tenho uma filha — jovem ainda, com vinte e sete anos — que faz questão de ser a depositária das estórias da família. Espero que, quando eu, pela lei da Vida, desaparecer, seja ela a «guardadora» dessas «relíquias», rostos que só conheceu por ouvir falar deles.
 
Ora, vem tudo isto a propósito do facto do antigo condiscípulo e dedicado Pilão Manuel Andrade estar a preparar uma grande recolha de fotografias de ex-alunos dos Pupilos para editar de forma condigna por ocasião do centenário da nossa Casa. Nesse afã conseguiu — feito notável — obter os retratos que o fotógrafo oficial dos Pupilos, dos anos 40, 50 e 60 do século passado, tinha em seu poder, por ainda ser vivo e cultivar o gosto de coleccionar aquelas caras que lhe foram familiares.
Na troca de correspondência que mantive com o Manuel Andrade — um «puto» de entrada em 1963, era eu já um ex-aluno, cadete da Academia Militar — fez-me ele, simpaticamente, chegar agora às mãos a minha primeira fotografia tirada no nosso querido Instituto.
Recordo-me desse dia e, para a posteridade, ficou gravado o meio sorriso que esbocei frente à máquina; era um hábito que havia adquirido em casa dos meus pais, no momento em que enfrentávamos a objectiva de qualquer aparelho fotográfico. Ainda não sabia que por lá, as fotografias não eram para ficar bonitas, mas para posterior identificação. Deveria ter suspeitado, se tivesse estado mais atento à placa com o número que nos iam pondo na frente; número que se nos colou à pele para toda a vida, ao contrário da vontade do legislador, quando, em 1911, mandou fundar o Instituto e especificamente proibiu a identificação dessa forma. Xavier Correia Barreto queria-nos individualizados e identificados pelos nossos nomes e não por algarismos, como então era hábito, nas fileiras militares, com as praças de pré. Outros tempos e outros conceitos de grande modernidade pedagógica para a época. Não vingaram, como muitas outras reformas republicanas.
 
Aqui fica a minha fotografia, aos doze anos, para satisfação de todos quantos não são capazes de imaginar que alguma vez tive essa idade. Foi feita numa manhã de quarta-feira de Outubro — só podia ser, por nesses dias termos as manhãs ocupadas com prática de desporto e instrução militar — do já longínquo ano de 1954.
Bem-haja ao Manuel Andrade.

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